Anos
atrás, li este conto da cientista ambiental e um dos maiores nomes da
agricultura orgânica no Brasil Ana
Primavesi e adorei. Reencontrei com este conto há pouco e adorei ainda
mais.
Ana
Primavesi mostra de uma maneira simples como ocorre o empobrecimento
e a decadência do solo, com a conseqüência baixa
do valor nutricional dos alimentos.
Falo
muito da necessidade de uma boa alimentação para uma saúde saudável, porém a
qualidade dos alimentos ingeridos deve ser levada em consideração para o
equilíbrio orgânico.
O
desequilíbrio de vitaminas e minerais em nosso organismo desencadeiam
desequilíbrios do corpo e da psique. A terapia
ortomolecular, ou oligoterapia
visa -molecularmente- este equilíbrio.
Vale
a pena ler.
Um grãozinho de trigo caiu na terra,
separado dos irmãos, sozinho, abandonado. Nenhum armazém protetor, nenhum de
seus irmãos foliões, nenhuma segurança nem bem estar. Sozinho jazia na terra
úmida, tremendo de medo. Um besouro grande e cascudo apareceu. Será que iria
comê-lo? O besouro sorriu. “Não como trigo, sou coprófago, como somente
excrementos de animais”
“Que horror!”, apavorou-se o grão de
trigo. O besouro não se incomodou. “Por quê?
Ele perguntou. “Cada um de nós vive segundo a programação que o Criador
nos deu. E se cumpro minha missão, posso ser tão satisfeito quanto você. Já
pensou se ninguém devorasse excrementos? O mundo seria inabitável!”
Tudo isso era demais para o grão de
trigo. “E eu? “, ele quis saber. “Você é tão inteligente, conte-me, quem sou
eu?”.
“Olhe, disse o besouro, “você não é
nada. Ë somente um pontinho com a capacidade de captar vida e de germinar, o
epitálio germinativo. E para que você faça isso como deve carrega junto um
computadorzinho ultraminúsculo e um pacotinho de ração de emergência.” “É a era
da informática? “, o grãozinho quis saber. “Para Deus , a informática sempre
existiu. O homem é que só a descobriu agora”, revelou o inseto.
Apavorado, o grão de trigo começou a
chorar: “A água está me molhando, está penetrando em meu corpo. Estou inchando!
Oh, meu Deus, eu vou arrebentar!”O besouro observou-o gravemente. “Sei”, disse
secamente. “Vai inchar até estourar.” “E depois?”, o grãozinho quis saber. “Depois
você vai formar uma planta de trigo, como programada: alta, linda, com três ou
mais colmos, com espigas graúdas, cheias de grãos de trigo iguais a você.” “E
para que serve então meu computadorzinho, se tudo é programado?”, o grão de
trigo quis saber.
“Bem”, ponderou o besouro, “você é
geneticamente programado, como os homens dizem. Mas entra a programação e o
ambiente deve existir uma completa concordância. Nem sempre existe no solo tudo
o que foi programado para sua formação.”
Nesse momento, entrou vida no grão,
e o germe moveu-se pela primeira vez. O computadorzinho genético começou a conferir a programação com
velocidade alucinante para poder estabelecer o programa definitivo,, segundo o
qual a planta iria crescer e se formar.
O programa básico estava no grão, mas a matéria- prima se desenvolveria.
Analisou também a água que tinha penetrado no grão e iniciou um acelerado
diálogo com os elementos que cercavam e penetravam o trigo.
“Há nitrogênio?”, perguntou. “Pouco”,
foi a resposta. “Maturação precoce!”, determinou o computador. “Há fósforo?” “Pouco.”
“Temos de reduzir o transporte de energia!” “Há boro?” “Pouquíssimo.” “Então o
programa será para não formar açúcares complexos, somente os simples.” “Há
zinco?” “Existe o suficiente.” “A programação é alterar por causa do fósforo.””Há
cobre?” “Muito pouco.” “Então vamos reduzir as desidrogenases e oxidades ao
mínimo”, mandou o computadorzinho. “Vai haver muitas flores estéreis, mas não
tem outro jeito!”
O grão de trigo angustiou-se. “Que
tipo de terra é essa?” O besouro fez cara feia: “Olhe, meu caro, a terra é boa,
mas você não foi programado para ela. Você, para essa terra, é exótico, não é
um ecótipo como eu, adaptado ao lugar em que tem de viver.” “Mas o homem que me
plantou prometeu jogar também nutrientes na terra”, desesperou-se o grão de
trigo. “Eu conheço isso”, disse o besouro, “ele jogará somente três a quatro
nutrientes. Vai ajudar um pouco, mas você vai virar uma planta fraca e doentia,
não podendo formar proteínas, acúcares complexos, substâncias aromáticas,
enzimas, vitaminas, hormônios, corantes e outros. Vai precisar de muitos
defensivos para não ser morto por fungos e pulgões. Pobre trigo. Mas em
contrapartida, vai ser rico em resíduos tóxicos. Ai do homem que comer de seus
grãos!”
O grão de trigo começou a chorar
amargamente. “Por que me plantaram aqui, por quê, por quê, por quê?” E o sonho
dele, de dar força e vitalidade aos homens, fugiu como o orvalho ao sol.